A inteligência artificial (IA) tem sido um fator determinante na transformação digital das empresas e na competitividade das economias. A ICC Portugal promoveu um debate sobre o impacto desta tecnologia no contexto nacional, abordando a nova regulamentação europeia (EU AI Act), os desafios da implementação e as oportunidades para negócios e inovação.
Regulamentação e Desafios da Implementação
Luís Neto Galvão, presidente da Comissão de Economia Digital da ICC Portugal, destacou que a legislação europeia sobre IA enfatiza a segurança das aplicações e o impacto nos indivíduos. No entanto, a sua implementação em Portugal pode ser complexa devido à existência de múltiplas entidades reguladoras. Serão catorze entidades, sob coordenação da ANACOM, responsáveis pela fiscalização, o que pode dificultar a coordenação e eficiência dos processos.
Entre os aspetos positivos, a nova regulamentação exige que os fabricantes desenvolvam manuais de instruções detalhados e que as empresas que implementam IA cumpram requisitos rigorosos de conformidade. Além disso, serão criados ambientes controlados de testes, conhecidos como regulatory sandboxes, permitindo que startups e PME experimentem e ajustem as suas soluções antes do lançamento no mercado. Contudo, há preocupações sobre o atraso na implementação desses ambientes em Portugal.
Velocidade da IA e Competitividade Europeia
Paulo Sande, vice-presidente da Comissão de Economia Digital da ICC Portugal, comparou a revolução da IA com a da Internet, mas destacou que esta evolução acontece a um ritmo muito mais acelerado. Alertou que a regulamentação da União Europeia pode ficar obsoleta rapidamente devido ao avanço constante da tecnologia.
A nível global, os investimentos massivos nos Estados Unidos, incluindo um plano de 500 mil milhões de dólares para IA, e a estratégia chinesa de desenvolvimento mais acessível e eficiente estão a desafiar a Europa. Apesar desses desafios, há esperança de que a Europa mantenha a sua relevância ao apostar em abordagens inovadoras e na eficiência dos seus modelos de IA.
IA Aplicada aos Negócios: Onde Investir?
Durante o painel sobre inovação e competitividade, Jorge Portugal, diretor-geral da COTEC, destacou que a IA representa uma nova "corrida ao Espaço" para a economia digital. Fazila Ahmad, responsável pela aceleração de IA na EDP, reforçou que a IA vai além da tecnologia e exige uma estratégia clara. Segundo um estudo do BGC, as empresas que realmente extraem valor da IA investem 10% em algoritmos, 20% em tecnologia e 70% na transformação dos processos e capacitação dos colaboradores.
A EDP aposta na formação contínua e criou uma incubadora digital para testar novas ideias rapidamente e com baixo custo. A empresa vê o futuro da IA focado na otimização de ativos, melhoria da experiência do cliente e operações no terreno. A longo prazo, a ambição é que todos os colaboradores tenham assistentes virtuais para apoiar as suas tarefas diárias.
IA como Motor da Inovação Empresarial
José Manuel Paraíso, CEO da Kyndryl Portugal, destacou que a IA não deve ser vista como uma competição entre humanos e máquinas, mas sim como uma colaboração entre ambos. A empresa usa IA para gerir milhões de eventos tecnológicos e automatizar processos, permitindo que os colaboradores se concentrem em tarefas mais estratégicas. Além disso, frisou que o maior desafio não está na disponibilidade da tecnologia, mas sim na preparação e integração dos dados para que a IA gere valor real para os negócios.
Casos de Sucesso da EDP
A EDP já implementou soluções inovadoras com IA, como o Fishnet Vision, que utiliza video analytics para monitorizar a passagem de peixes em barragens, reduzindo o impacto ambiental. Outro projeto, o Vega Analytics, prevê e monitoriza o crescimento da vegetação junto a redes elétricas, permitindo manutenções mais eficientes e reduzindo custos operacionais. Estes exemplos mostram como a IA pode ser aplicada de forma estratégica para melhorar a eficiência e a sustentabilidade das operações.
Fonte: IT Insight