Nos últimos anos, os datacenters afirmaram-se como um dos pilares estratégicos da transformação digital global. Em Portugal, esse movimento começa a ganhar dimensão, com números que já impactam a economia nacional de forma significativa — mas que ainda representam apenas o início de um potencial muito maior.
Estudos recentes indicam que, se o crescimento for sustentado, o setor poderá contribuir com mais de 4 mil milhões de euros por ano para o PIB nacional até 2030. Mas o impacto vai além dos números: estamos a falar da criação de milhares de empregos, do reforço da soberania digital e da afirmação de Portugal como hub tecnológico europeu.
O crescimento até 2030: um cenário ambicioso
Entre 2025 e 2030, o setor dos datacenters em Portugal tem potencial para gerar até 26 mil milhões de euros para a economia, ou seja, cerca de 4,4 mil milhões por ano, considerando o impacto direto, indireto e induzido. Este desenvolvimento pode refletir-se também no mercado de trabalho, com a possibilidade de criação de até 50 mil empregos por ano, incluindo posições técnicas, administrativas e de suporte em cadeias associadas à infraestrutura digital.
Este avanço representa uma oportunidade única para posicionar o país no mapa da inovação tecnológica, atraindo investimento estrangeiro e promovendo a digitalização transversal em todos os setores económicos.
Talento nacional: a chave do sucesso
Portugal dispõe de uma comunidade tecnológica sólida, com mais de 200 mil profissionais qualificados nas áreas das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Além disso, o número de diplomados em áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) continua a crescer todos os anos, fortalecendo a base de talento necessária para responder às exigências do setor.
Com o aumento da procura por soluções de cloud computing, inteligência artificial e serviços digitais avançados, o país está bem posicionado para fornecer os recursos humanos e técnicos exigidos por datacenters de última geração.
Por que Portugal?
Há um conjunto de fatores que colocam Portugal como destino estratégico para a instalação e operação de datacenters:
- Alta conetividade internacional: cerca de um quarto dos cabos submarinos intercontinentais passam por território nacional.
- Rede de fibra ótica robusta: cobertura de fibra superior a 90% da população, entre as melhores da Europa.
- Energia mais acessível: preços de eletricidade até 30% abaixo da média europeia, com forte aposta em fontes renováveis.
- Clima e geografia favoráveis: a proximidade ao oceano permite sistemas eficientes de arrefecimento sustentável, reduzindo o consumo de água doce.
Investimentos em marcha
Diversas empresas estão a investir em força no território nacional, com projetos de grande escala em Lisboa, Sines, Alcochete e outras regiões. Estão a ser construídos datacenters com capacidade para servir não só o mercado interno, mas também clientes internacionais, numa lógica de interconexão entre continentes.
Esses investimentos representam milhares de milhões de euros e posicionam o país como uma porta de entrada digital entre a América, a Europa e África. Adicionalmente, contribuem para a descentralização económica, ao instalarem-se fora dos grandes centros urbanos.
A importância da estratégia nacional
Apesar do grande potencial, o sucesso do setor dependerá de uma estratégia coordenada entre governo, setor privado e instituições de ensino. Para isso, é fundamental agir em cinco áreas prioritárias:
- Energia e semicondutores: garantir o fornecimento estável de eletricidade e o acesso a componentes tecnológicos essenciais.
- Licenciamento eficiente: simplificar e acelerar os processos de aprovação de infraestruturas tecnológicas.
- Incentivos específicos: criar medidas que promovam o investimento direto estrangeiro e nacional.
- Promoção da digitalização: apoiar a adoção de tecnologias cloud e IA por parte de empresas e organismos públicos.
- Alinhamento político: assegurar políticas públicas consistentes que favoreçam o crescimento do ecossistema digital.
Com estes pilares, será possível criar um ambiente competitivo, seguro e atrativo para operadores globais de datacenters, ao mesmo tempo que se promove a inovação a nível interno.
Um setor com impacto transversal
O desenvolvimento de datacenters tem implicações muito além da tecnologia. A sua presença estimula cadeias de valor completas: construção civil, energia, telecomunicações, logística, manutenção, segurança e serviços especializados.
Além disso, são um motor de transformação digital, permitindo o crescimento de startups, plataformas de IA, serviços de análise de dados, e soluções baseadas em cloud que beneficiam desde a saúde ao retalho.
A sustentabilidade é outro fator relevante: os novos datacenters priorizam a eficiência energética, o reaproveitamento de energia térmica, a redução de emissões e o uso de fontes limpas, alinhando-se com os objetivos ambientais da União Europeia.
Portugal como hub digital do Atlântico
A localização geográfica do país, aliada à capacidade de ligação digital internacional, permite a Portugal assumir um papel central nas trocas de dados entre continentes. Com os investimentos certos, o país pode tornar-se num hub digital do Atlântico, oferecendo infraestrutura de qualidade, custos competitivos e sustentabilidade energética.
A criação de valor será distribuída por múltiplas regiões, o que pode contribuir para um desenvolvimento mais equilibrado e inclusivo. O acesso à economia digital deixa de ser um privilégio dos grandes centros urbanos e passa a estar ao alcance de todo o território.
O setor dos datacenters em Portugal tem um caminho claro para se tornar numa das alavancas económicas mais relevantes da próxima década. Para isso, é preciso acelerar decisões, investir em talento e garantir políticas públicas inteligentes que favoreçam o crescimento sustentável da economia digital.
A oportunidade está à vista. Resta saber se Portugal está pronto para a agarrar — e liderar.
Fonte: Tek Sapo