Nos últimos meses, Portugal tem assistido a um crescimento significativo de fraudes telefónicas associadas à falsificação de números — um esquema cada vez mais sofisticado que ameaça tanto consumidores como empresas. Este artigo explora o fenómeno do spoofing, como ele funciona, porque está a ganhar força, e o que podes fazer para te proteger, especialmente se trabalhas nas áreas de tecnologia, inovação ou segurança digital.
O que está a acontecer
O número de queixas sobre chamadas falsas duplicou nos últimos tempos. Em muitos casos, os burlões fazem-se passar por instituições credíveis — bancos, operadoras, entidades governamentais — utilizando números reais que pertencem a utilizadores legítimos. Ao atenderes uma chamada, vês um número aparentemente confiável no ecrã, mas do outro lado está alguém com más intenções.
Este tipo de fraude é particularmente preocupante porque compromete a confiança nas comunicações telefónicas. Já não é suficiente olhar para o número de quem liga — até isso pode ser manipulado.
Spoofing e vishing: como funcionam
O spoofing é uma técnica que permite falsificar o número que aparece no visor de quem recebe uma chamada. É como se alguém usasse a tua identidade para enganar outras pessoas, mas no mundo digital.
Quando combinado com vishing (voice phishing), o perigo aumenta. Os burlões usam chamadas automatizadas ou ao vivo para manipular as vítimas e levá-las a fornecer dados pessoais, bancários ou de acesso a contas. Tudo isto acontece em poucos minutos, com recurso a argumentos bem ensaiados e, por vezes, com o apoio de tecnologias de inteligência artificial que imitam vozes humanas com grande realismo.
Perfis de ataque em Portugal
As chamadas suspeitas seguem padrões cada vez mais variados. Muitas vezes são silenciosas — a vítima atende e não ouve nada. Noutras situações, ouve-se uma gravação automática a pedir que se pressione uma tecla para falar com um agente.
Existem também casos de chamadas no meio da noite com números muito semelhantes aos do utilizador, dificultando a distinção entre um contacto legítimo e uma tentativa de fraude. Por detrás destes ataques estão muitas vezes redes internacionais organizadas, com centros de chamadas que funcionam 24 horas por dia.
O objetivo é claro: criar pressão emocional, gerar confusão e levar a vítima a agir sem pensar — seja para partilhar códigos, realizar transferências ou instalar apps de controlo remoto.
Por que razão o número de telefone é tão valioso
Hoje em dia, o número de telefone funciona quase como uma chave-mestra no mundo digital. É usado para recuperar palavras-passe, aceder a contas bancárias, validar compras e muito mais. Isso faz com que se torne um alvo apetecível para cibercriminosos.
A partir do momento em que um burlão tem acesso ao teu número ou consegue usá-lo para enganar outros, pode causar grandes prejuízos — tanto em nome individual como em contexto empresarial. E quanto mais dados pessoais estiverem associados ao número, maior o risco.
Que medidas estão a ser tomadas
O aumento dos casos tem levado a autoridade nacional a propor alterações na legislação para incluir mecanismos específicos de combate ao spoofing. A ideia é criar formas de responsabilização para quem origina chamadas fraudulentas e permitir aos operadores detetar e bloquear estas práticas.
No entanto, estas soluções ainda estão em fase de discussão, e o processo legal pode demorar. Até lá, é essencial que utilizadores e empresas estejam proativos na prevenção.
Como te podes proteger — boas práticas
1. Desconfia sempre de chamadas inesperadas
Se receberes uma chamada de um número que não conheces, especialmente se a pessoa do outro lado se identificar como sendo de um banco, operadora ou entidade pública, não forneças qualquer dado. Desliga e confirma a informação por outros meios oficiais.
2. Evita devolver chamadas a números suspeitos
Se perderes uma chamada estranha, não ligues de volta de imediato. Em muitos casos, isso pode conduzir a linhas internacionais com custos elevados ou a novas tentativas de burla.
3. Verifica se o número já foi reportado
Existem plataformas e aplicações que permitem consultar se um determinado número já está associado a tentativas de fraude. São ferramentas úteis para quem quer tomar decisões informadas.
4. Sensibiliza a tua rede pessoal e profissional
Muitas vítimas são pessoas mais vulneráveis — como idosos — que podem não estar informadas sobre estas técnicas. Partilhar este conhecimento com familiares, colegas ou equipas pode fazer a diferença.
5. Utiliza autenticação multifator (MFA)
Sempre que possível, ativa a autenticação em dois passos nas tuas contas. Assim, mesmo que alguém tenha o teu número ou senha, não conseguirá aceder aos teus dados sem o segundo fator.
6. Reforça a segurança da tua empresa
Organizações devem garantir que os seus sistemas de contacto, como centrais telefónicas VoIP, têm camadas de proteção contra spoofing e que os colaboradores estão treinados para identificar situações de risco.
Tendências preocupantes
Uma das tendências que mais preocupa os especialistas é o uso de inteligência artificial para simular vozes reais — de colegas, familiares ou figuras públicas. Estas tecnologias tornam as chamadas fraudulentas mais convincentes e aumentam a probabilidade de sucesso dos ataques.
Outra preocupação é a rapidez com que os burlões adaptam as suas estratégias. Sempre que uma técnica começa a ser divulgada, surge uma nova abordagem. Esta agilidade exige que os sistemas de defesa e a literacia digital estejam sempre atualizados.
Fonte: SAPO