A transformação digital continua a moldar o futuro das empresas, e um dado recente confirma essa tendência: 61 % das organizações em Portugal planeiam reforçar o investimento na automação de tarefas repetitivas. Esta percentagem coloca o país alinhado com a média global, sendo que as grandes empresas nacionais são as mais ativas neste movimento.
Investimento em automação: quem está na linha da frente?
As grandes empresas, com mais de 5 000 colaboradores, lideram a adoção de soluções automatizadas, com cerca de 67 % a planear reforçar os seus investimentos. As empresas com entre 1 000 e 5 000 funcionários seguem o mesmo caminho. Nas médias empresas (entre 250 e 999 colaboradores), 65 % indicam intenção semelhante. Já nas pequenas empresas, essa percentagem é de 57 %, enquanto nas microempresas (menos de 10 trabalhadores) cerca de 45 % estão a considerar investir mais em automação.
Setores que mais apostam na automatização
A automação está a ganhar tração em vários setores da economia portuguesa. O setor das Tecnologias de Informação lidera, com 81 % das empresas a prever reforço neste tipo de soluções. Seguem-se os setores das Finanças e Imobiliário (72 %) e da Energia e Utilities (69 %). Outros setores como Consumo (59 %) e Saúde e Ciências da Vida (56 %) também revelam interesse crescente.
Por outro lado, setores mais tradicionais como a Indústria Pesada, Logística, Transportes e Comunicações apresentam níveis de adoção mais conservadores, com percentagens entre os 50 % e os 55 %.
Áreas funcionais mais impactadas
As funções profissionais que deverão sentir mais impacto com a automação são as áreas de Tecnologias de Informação e Dados (74 %), Vendas e Marketing (69 %) e Operações/Logística (67 %). Também áreas como Produção Industrial e Sustentabilidade/Meio Ambiente estão na mira, com 66 % das empresas a indicarem intenção de automatizar tarefas nesses domínios.
Por que motivo a automação está a acelerar?
A crescente aposta na automação pode ser explicada por duas grandes tendências:
Hiperautomação e Inteligência Artificial
A combinação de tecnologias como RPA (Robotic Process Automation), Inteligência Artificial e computação em nuvem tem permitido uma nova abordagem à eficiência operacional. Muitas empresas veem estas soluções como essenciais para otimizar processos e reduzir custos, promovendo simultaneamente a integração de sistemas e a agilidade organizacional.
Atualização da infraestrutura digital
Embora o potencial seja elevado, muitas organizações ainda se deparam com limitações nas suas infraestruturas digitais. A falta de preparação tecnológica e de talento especializado são obstáculos reconhecidos. No entanto, a maioria das empresas mostra-se determinada em superar essas barreiras, planeando expandir o uso da IA em áreas como operações, investigação, segurança e experiência do cliente.
O impacto da automação nas empresas
A automação promete transformar o modo como as equipas trabalham e como as empresas operam. A nível de produtividade, estima-se que os trabalhadores dediquem cerca de 3 horas por dia a tarefas repetitivas e propensas a erro. A automatização destas atividades poderá permitir ganhos significativos de tempo e precisão, libertando os colaboradores para funções mais estratégicas.
Além disso, estima-se que cerca de 45 % dessas tarefas repetitivas possam vir a ser automatizadas nas grandes empresas já nos próximos meses, traduzindo-se em poupanças operacionais substanciais.
Desafios e oportunidades para o mercado de trabalho
A introdução massiva de automação e inteligência artificial no mundo empresarial terá impacto direto no mercado de trabalho. Em Portugal, projeta-se que até 2030 cerca de 1,3 milhões de postos de trabalho possam ser requalificados. Embora algumas funções desapareçam, outras novas surgirão, exigindo um esforço de adaptação e requalificação por parte dos profissionais.
Por outro lado, esta transformação poderá impulsionar significativamente a economia nacional. A adoção de tecnologias de automação e IA poderá representar um aumento acumulado de mais de 2 pontos percentuais no PIB anual até ao final da década, com potencial de chegar aos 3,8 % com uma implementação rápida e eficaz.
A importância da formação e da cultura digital
Um dos grandes desafios que se impõem às empresas é garantir que os seus colaboradores possuem as competências necessárias para acompanhar esta evolução. Muitas organizações reconhecem que têm ainda lacunas ao nível das competências digitais e da preparação para trabalhar com ferramentas baseadas em inteligência artificial.
A formação contínua, a requalificação e o investimento numa cultura organizacional orientada para a inovação serão fatores críticos para tirar o máximo partido do potencial da automação.
Casos práticos de aplicação
Empresas tecnológicas já demonstram os benefícios da automação em áreas como gestão documental, operações de back-office e atendimento ao cliente. Estas soluções têm permitido reduzir processos que antes levavam horas a apenas alguns minutos, além de melhorar a qualidade do serviço prestado.
A utilização de bots e IA generativa também tem sido aplicada no suporte ao cliente, aumentando a capacidade de resposta e reduzindo tempos de espera. Por outro lado, a aplicação de tecnologias de reconhecimento de imagem e análise preditiva tem vindo a ser usada em áreas como controlo de qualidade e deteção de anomalias, com resultados positivos.
Obstáculos ainda por ultrapassar
Apesar do entusiasmo, as empresas ainda enfrentam alguns entraves à automação total.
Entre os principais desafios encontram-se:
- Infraestruturas tecnológicas obsoletas ou mal preparadas;
- Aumento da complexidade técnica e da dívida tecnológica;
- Resistência à mudança cultural dentro das organizações;
- Questões de privacidade, regulamentação e ética no uso de IA.
Estes fatores exigem planeamento estratégico, investimento adequado e uma abordagem progressiva à implementação.
Caminhos para o futuro
Para as empresas e profissionais ligados à tecnologia e inovação, existem vários caminhos possíveis para capitalizar esta tendência:
- Definir uma estratégia de automação alinhada com os objetivos de negócio – Identificar tarefas críticas para automatizar e medir o impacto.
- Investir na formação e capacitação das equipas – Apostar no desenvolvimento de competências digitais e em literacia de IA.
- Modernizar a infraestrutura tecnológica – Preparar os sistemas para suportar tecnologias avançadas, garantindo escalabilidade e segurança.
- Integrar práticas éticas e sustentáveis – Incluir preocupações com transparência, privacidade e governação de dados desde o início.
Portugal está a entrar numa nova fase da digitalização empresarial, onde a automação deixará de ser uma opção para se tornar numa exigência competitiva. Mais de 60 % das empresas portuguesas já estão a dar os primeiros passos nesse sentido, com o setor tecnológico a liderar a mudança.
Para profissionais e organizações, este é o momento ideal para abraçar a automação como um motor de crescimento, produtividade e inovação. Automatizar hoje é garantir competitividade amanhã.
Fonte: IT Insight