A tecnocracia, conceito que propõe a gestão da sociedade por especialistas técnicos em vez de políticos tradicionais, ressurgiu com força na Era Digital. No século XX, figuras como Howard Scott e o economista Thorstein Veblen defenderam um modelo onde engenheiros e cientistas tomariam decisões com base em conhecimento técnico, eliminando influências políticas. Agora, com a ascensão das big techs e a influência de gigantes tecnológicos, o conceito ganha uma nova dimensão.
A Ascensão da Elite Tecnológica
A digitalização acelerada da economia e da sociedade colocou tecnólogos no centro das decisões políticas e económicas. A influência de nomes como Elon Musk, Mark Zuckerberg e Jeff Bezos demonstra o poder crescente da elite tecnológica, capaz de moldar opiniões, controlar a circulação de informações e influenciar decisões governamentais.
O conceito de "tecnototalitarismo" surge nesse contexto, descrevendo um modelo onde algoritmos e inteligência artificial são utilizados não apenas para otimizar processos, mas também para monitorizar e condicionar comportamentos. Redes sociais, motores de busca e serviços digitais tornam-se ferramentas invisíveis de poder, orientando decisões individuais e coletivas sem transparência ou supervisão democrática.
Tecnocracia na Geopolítica
A influência da tecnologia vai além do mercado e atinge a geopolítica. O modelo chinês de crédito social, que monitoriza e avalia o comportamento dos cidadãos, exemplifica como a tecnologia pode ser usada para controle social. Putin, por sua vez, utiliza ferramentas digitais para monitorização e censura, reforçando seu poder na Rússia. Já nos EUA, a administração Trump estreitou laços com Silicon Valley, criando um híbrido entre pragmatismo político e influência digital.
O Perigo da Nova Ordem Digital
Com o avanço das big techs e sua imbricação com governos, surge um dilema: até que ponto a tomada de decisões baseada em dados e inteligência artificial é compatível com os princípios democráticos? A substituição de políticos tradicionais por especialistas pode garantir maior eficiência, mas também pode resultar em um sistema onde o poder está concentrado em uma elite técnica, distante das reais necessidades da população.
O desafio da era digital é encontrar um equilíbrio entre especialização e representação, garantindo que o avanço tecnológico não comprometa valores democráticos fundamentais. Afinal, quem deve decidir o futuro da sociedade: algoritmos ou pessoas?
Fonte: Açoriano Oriental