A escassez de água — provocada por incêndios florestais, secas prolongadas e ondas de calor extremas — tornou-se um dos maiores riscos para a operação dos data centers. Se antes a energia era o fator central na resiliência destas infraestruturas, hoje a água passou a ocupar um papel igualmente crítico. Sem soluções sustentáveis, até os centros de dados mais avançados podem enfrentar interrupções graves.
Num mundo cada vez mais dependente do processamento intensivo, sobretudo com o crescimento da inteligência artificial, garantir um uso eficiente da água deixou de ser apenas uma questão ambiental: tornou-se um desafio estratégico para a segurança digital e para o futuro da infraestrutura tecnológica.
O Caso de Sines: Arrefecimento Sustentável com Água do Mar
Portugal está a posicionar-se como referência europeia ao adotar soluções inovadoras de arrefecimento. O projeto de Sines é exemplo disso: um megacentro de dados que utiliza água do mar para arrefecer os servidores, sem a consumir. A água entra nos sistemas, cumpre a sua função e regressa ao oceano com uma variação térmica mínima.
Esta estratégia apresenta duas vantagens imediatas: reduz significativamente o consumo hídrico e diminui também a necessidade energética do sistema de refrigeração. Além disso, reutiliza infraestruturas existentes, como as de antigas centrais elétricas, transformando desperdício em valor acrescentado.
Com edifícios já operacionais e planos de expansão até 2027, o projeto promete atingir níveis de eficiência energética (PUE) bem abaixo da média do setor, consolidando-se como um dos exemplos mais sustentáveis do mundo.
Tecnologias que Estão a Redefinir a Refrigeração dos Data Centers
Além de Sines, outras soluções sustentáveis estão a ganhar força no setor:
- Reutilização da água da chuva: sistemas que recolhem e filtram água pluvial para utilização no arrefecimento, reduzindo a dependência de redes públicas.
- Refrigeração em circuito fechado: chillers que fazem circular a água sem perdas por evaporação, praticamente eliminando o consumo hídrico.
- Resfriamento geotérmico ou com águas profundas: aproveitamento de água naturalmente fria de lagos ou reservatórios subterrâneos, devolvendo-a depois à sua origem sem desperdício.
- Aproveitamento do calor residual: o calor gerado pelos servidores pode ser reaproveitado para aquecer edifícios, redes urbanas ou até piscinas públicas.
- Refrigeração por imersão: servidores submersos em líquidos especiais que dissipam calor de forma mais eficiente, reduzindo o uso de energia e água.
Estas soluções combinam eficiência energética com redução do impacto ambiental, ajudando as empresas a enfrentar simultaneamente os desafios climáticos e operacionais.
O Crescente Impacto da Crise Hídrica
O consumo de água pelos data centers tem crescido a um ritmo acelerado em toda a Europa. Se hoje o volume já é comparável a dezenas de milhares de piscinas olímpicas por ano, as projeções para 2030 apontam para números ainda mais elevados.
Algumas empresas internacionais prometeram alcançar o chamado “consumo positivo de água”, ou seja, devolver mais do que utilizam. Porém, essa meta ainda levanta dúvidas sobre a sua viabilidade prática. O certo é que as pressões regulatórias e ambientais estão a aumentar, e apenas quem adotar estratégias sustentáveis a tempo poderá garantir continuidade operacional sem comprometer recursos essenciais.
Porque Portugal Tem Vantagem Competitiva
Portugal reúne várias condições que o tornam particularmente competitivo neste contexto:
- Localização estratégica: excelente conectividade internacional e estabilidade geopolítica.
- Energia renovável: mais de 70% da eletricidade já proveniente de fontes limpas, com metas ainda mais ambiciosas para a próxima década.
- Infraestruturas inovadoras: projetos como o de Sines colocam o país no mapa mundial dos data centers sustentáveis.
Estes fatores tornam Portugal um destino privilegiado para investimentos em infraestruturas digitais verdes, atraindo empresas que procuram conciliar alto desempenho tecnológico com responsabilidade ambiental.
Tendência Global: Sustentabilidade Como Requisito
A pressão por práticas sustentáveis deixou de ser uma opção de marketing e passou a ser um requisito operacional e regulatório. O impacto da inteligência artificial e de outras tecnologias de alto consumo reforça a urgência em adotar modelos de gestão hídrica inovadores.
Empresas que não investirem em soluções de eficiência hídrica correm o risco de enfrentar custos elevados, restrições legais e perda de competitividade. Já aquelas que liderarem esta transição sustentável terão vantagens claras no mercado, conquistando não só clientes, mas também confiança social e institucional.
A Tecnologia Só é Sustentável com Água
A escassez de água está a emergir como um dos maiores desafios da era digital. A capacidade de um data center não depende apenas de eletricidade ou largura de banda, mas também da disponibilidade e gestão inteligente da água.
Portugal mostra que é possível inovar e liderar esta transição, transformando risco em oportunidade. O futuro dos data centers sustentáveis passa por soluções como o arrefecimento com água do mar, reutilização de chuva, sistemas em circuito fechado, imersão e aproveitamento de calor.
Para profissionais e empresas do setor tecnológico, esta realidade deixa uma mensagem clara: a resiliência digital do futuro só será possível com sustentabilidade. E Portugal já está um passo à frente.
Fonte: Ntech