A inteligência artificial (IA), apesar das promessas revolucionárias, está a falhar em algo crucial: o nosso tempo. Embora esteja já inserida em quase todos os domínios : educação, saúde, marketing ou comunicação, a forma como a usamos revela-se, por vezes, contra-producente e até desgastante.
O crescimento veloz e os custos escondidos
Desde 2023, com ferramentas como o ChatGPT, Copilot ou Gemini, a adoção da IA disparou. O seu poder transformador é inegável, e a regulação europeia começa finalmente a acompanhar este avanço com iniciativas como o AI Act. Mas “velocidade” não é sinónimo de “eficácia”.
Muitas das plataformas exigem que o utilizador formule instruções extremamente precisas para que o resultado seja realmente útil. Sem isso, a IA tende a inventar ou distorcer informação, obrigando-nos a perder tempo a verificar e corrigir. O que seria uma ferramenta de produtividade transforma-se, assim, numa fonte de frustração e retrabalho.
A frustração silenciosa da produtividade perdida
Estudos recentes mostram que uma parte significativa dos profissionais perde horas por semana a corrigir erros gerados por IA. Em muitos casos, as empresas que adotaram estas ferramentas ainda não registaram ganhos reais de eficiência. Apesar do entusiasmo inicial, o retorno tem ficado abaixo do esperado.
A promessa de automação e rapidez, que deveria simplificar processos, acaba muitas vezes por gerar o efeito contrário: mais tempo gasto a rever e ajustar tarefas, menos tempo para o que realmente importa: pensar e criar.
Pressão para usar, mesmo sem preparação
Existe também uma pressão crescente para usar IA em todos os contextos, mais por medo de ficar para trás do que por verdadeira necessidade. No entanto, a maioria das pessoas não recebeu qualquer formação adequada sobre como utilizar estas ferramentas de forma estratégica.
Sem essa literacia, o resultado é previsível: desperdício de tempo, resultados inconsistentes e uma dependência crescente de sistemas que nem sempre compreendemos totalmente. A tecnologia, quando usada sem critério, pode tornar-se um obstáculo à eficiência em vez de um aliado.
Implicações éticas e o risco da desinformação
Esta utilização massiva de IA levanta também questões éticas e de confiança. Quem está realmente por trás das mensagens que lemos? Como distinguir o conteúdo humano do gerado por algoritmos?
A desinformação automatizada é um dos maiores riscos da era digital. A linha que separa o humano do artificial está a tornar-se cada vez mais ténue, e isso exige uma reflexão profunda sobre o papel da IA nas nossas vidas, especialmente quando afeta decisões, opiniões e valores.
O que podemos (e devemos) fazer
- Promover a literacia em IA: não basta usar; é essencial compreender.
- Desenvolver boas práticas de “prompt design”: instruções claras reduzem erros e aumentam a eficiência.
- Avaliar onde a IA realmente acrescenta valor: apoio à criatividade, pesquisa e produtividade, e não mera substituição automática.
- Formar profissionais e estudantes: garantir que todos sabem como usar estas ferramentas de forma responsável e eficaz.
A IA tem um potencial transformador enorme. Mas se a usarmos de forma apressada e sem critério, corremos o risco de desperdiçar o nosso tempo e o seu verdadeiro valor. Num mundo em que produtividade e confiança são essenciais, o desafio não é automatizar tudo, mas sim saber quando e como o devemos fazer.
Fonte: Sábado
