A inteligência artificial está cada vez mais presente no nosso dia a dia — desde assistentes virtuais e motores de recomendação até decisões automatizadas em negócios e serviços públicos. No entanto, apesar do uso crescente, muitos utilizadores continuam a não confiar nestas tecnologias e, pior ainda, não compreendem o seu funcionamento.
Surpreendentemente, mesmo em países altamente desenvolvidos, o nível de literacia em IA continua preocupantemente baixo. Em vez de impulsionar confiança, o avanço tecnológico tem gerado confusão, desinformação e uma crescente sensação de insegurança digital.
Um fosso crescente entre utilização e compreensão
A maioria das pessoas já interage com sistemas de IA regularmente. Contudo, uma parte significativa não sabe exatamente como essas ferramentas funcionam ou sequer reconhece quando estão a ser utilizadas. Este desfasamento entre utilização e compreensão torna-se terreno fértil para a desinformação, o uso indevido e até a manipulação.
Este cenário é ainda mais crítico quando olhamos para o contexto profissional. Muitos trabalhadores recorrem a ferramentas de IA no dia a dia, muitas vezes sem formação adequada ou sem compreender os limites éticos e legais. A utilização de IA para processar dados confidenciais — sem garantias de segurança — está a tornar-se um problema real e urgente para empresas de todos os setores.
O impacto real dos riscos da IA
A lista de preocupações associadas à IA é extensa: cibersegurança, perda de privacidade, manipulação da opinião pública, substituição de empregos e, mais recentemente, o medo de um verdadeiro "apagão" informativo causado por sistemas automatizados que disseminam desinformação.
Estas preocupações não são meramente teóricas. Há evidências de que a IA já está a ser usada para influenciar eleições, criar conteúdos falsos difíceis de distinguir dos reais e manipular opiniões à escala global. O uso de IA para gerar desinformação representa uma ameaça concreta à democracia e à estabilidade social.
Além disso, a manipulação de dados — muitas vezes feita com o objetivo de "treinar" algoritmos — pode introduzir enviesamentos profundos e difíceis de detetar. Esses enviesamentos podem espalhar-se silenciosamente através de motores de busca, redes sociais ou plataformas de notícias, distorcendo a perceção pública da realidade.
A urgência de uma resposta coordenada
É crucial que haja uma resposta rápida e articulada a estes desafios. A regulamentação da IA tem de avançar a par do seu desenvolvimento, e não a reboque. O foco deve estar em garantir que as ferramentas de IA são seguras, transparentes, auditáveis e alinhadas com os interesses da sociedade.
Governos, empresas e instituições de ensino têm um papel fundamental a desempenhar. A formação em literacia digital e inteligência artificial deve tornar-se uma prioridade — não apenas para profissionais da área tecnológica, mas para todos os cidadãos. Só assim será possível criar uma base sólida de confiança e compreensão que permita à sociedade tirar real proveito das oportunidades criadas pela IA.
Ao mesmo tempo, é necessário reforçar a transparência na utilização destas tecnologias. Os utilizadores têm o direito de saber quando estão a interagir com sistemas automatizados e como os seus dados estão a ser utilizados. A confiança só se constrói com clareza e responsabilidade.
Um futuro tecnológico responsável está nas nossas mãos
A IA tem potencial para melhorar drasticamente áreas como saúde, mobilidade, educação e gestão de recursos. Mas este progresso não pode acontecer à custa da verdade, da segurança ou da equidade. É possível — e necessário — desenvolver uma inteligência artificial centrada no ser humano, que respeite os direitos fundamentais e contribua para uma sociedade mais justa e informada.
Ignorar os sinais de alerta pode levar-nos a um cenário onde a informação se torna irreconhecível, os sistemas se tornam incontroláveis e a confiança digital colapsa. O futuro da IA está a ser escrito agora — e cabe-nos a todos garantir que o fazemos com consciência, ética e visão estratégica.
Fonte: Sapo TEK