No primeiro semestre de 2025, o setor tecnológico vive uma nova vaga de despedimentos em larga escala. Só entre 1 de janeiro e 5 de agosto, foram eliminados cerca de 149 mil postos de trabalho em empresas de tecnologia, sendo que mais de 70% destes cortes ocorreram nos Estados Unidos.
Esta tendência está longe de ser pontual. Grandes empresas estão a reduzir equipas e a reestruturar operações, impulsionadas por fatores como a adoção da Inteligência Artificial, a automação de processos e políticas rigorosas de contenção de custos. Em muitos casos, a reorganização vem acompanhada de substituição de funções humanas por sistemas baseados em IA, especialmente nas áreas mais repetitivas ou operacionais.
Empresas em destaque: Intel, Microsoft, TCS e IBM na linha da frente
Intel lidera em número de cortes, com aproximadamente 33,9 mil despedimentos. A empresa justifica estas mudanças com a necessidade de focar recursos em áreas estratégicas como IA e serviços de fundição, prevendo reduzir até 20% da sua força de trabalho até ao final do ano.
Microsoft surge logo atrás, com 19,1 mil cortes, consequência da sua forte aposta na integração de IA em produtos e serviços, incluindo soluções como o Copilot.
TCS (Tata Consultancy Services) anunciou 12 mil despedimentos em julho, explicando que a automatização crescente e a falta de alinhamento de competências justificam a medida.
IBM comunicou cerca de 9 mil cortes, focados sobretudo nas áreas de marketing e comunicação, e admitiu que muitos postos foram substituídos por soluções automatizadas ou deslocados para outros mercados.
Este movimento mostra que a estratégia dominante é “encolher” estruturas internas, eliminando cargos intermédios e funções que a tecnologia já consegue executar de forma mais rápida e barata.
Porquê agora? Fatores por trás da tendência
1. Ajustamento pós-pandemia e contenção de custos
Durante a pandemia, o setor tecnológico assistiu a um boom de contratações para responder à elevada procura por soluções digitais. Agora, com o arrefecimento da economia e um consumo mais contido, as empresas procuram ajustar dimensões e cortar custos para proteger margens.
2. Automação acelerada pela IA
A Inteligência Artificial deixou de ser apenas uma promessa e tornou-se uma ferramenta prática para otimizar operações. Processos que antes exigiam equipas numerosas são agora realizados com menos recursos humanos, graças a sistemas automatizados mais precisos e acessíveis.
3. Falta de competências adequadas
Apesar de haver profissionais disponíveis no mercado, muitas empresas não encontram perfis com formação e experiência em IA, machine learning ou automação avançada. A ausência de investimento consistente em requalificação interna agrava a situação.
Impacto no mercado de trabalho e na produtividade
Consequências imediatas
Os despedimentos não afetam apenas os trabalhadores que perdem o emprego. A entrada repentina de milhares de profissionais no mercado aumenta a competição, pressiona salários e torna mais difícil a colocação de perfis menos especializados.
Risco de queda na produtividade
A IA pode aumentar a eficiência, mas a substituição total de equipas humanas nem sempre é vantajosa. Muitas empresas que tentaram automatizar totalmente funções críticas — como o atendimento ao cliente — já estão a recuar, percebendo que a ausência de supervisão humana prejudica a qualidade do serviço e a satisfação dos utilizadores.
Perspetivas e estratégias para o futuro
Requalificação como prioridade: Investir na formação de colaboradores em áreas como IA, machine learning e análise de dados é cada vez mais vital. A requalificação interna pode evitar despedimentos em massa e garantir uma adaptação mais suave às mudanças.
Planeamento cuidadoso da integração de IA: A tecnologia deve ser implementada com objetivos claros e métricas de qualidade, garantindo que complementa — e não substitui cegamente — o trabalho humano.
Modelos híbridos: A tendência é combinar tecnologia e intervenção humana, tirando partido do melhor de cada um. A IA deve servir para potenciar capacidades e não para eliminar indiscriminadamente equipas inteiras.
Adaptação do ensino e políticas públicas: Com quase um terço dos empregos em Portugal potencialmente em risco devido à automação, é essencial que escolas, universidades e entidades governamentais preparem programas de capacitação ajustados à nova realidade.
Fonte: Digital Inside