Os serviços financeiros, tal como aconteceu com a eletricidade e com a internet, estão a tornar-se invisíveis. Embora presentes, convertem-se hoje numa infraestrutura incorporada e silenciosa.
Segundo a análise da Stratesys, uma multinacional tecnológica com forte presença em Portugal, este fenómeno, conhecido como integração financeira ou finanças incorporadas, representa muito mais do que uma tendência, é uma reconfiguração integral do modelo económico e empresarial.
Uma mudança de paradigma que dilui as fronteiras entre as empresas e as entidades financeiras e altera a relação entre os pagamentos, os dados, os seguros e as decisões.
Gerir finanças tornou-se obsoleto. Em 2025, elas ativam-se
A lógica das empresas, que tiveram, durante muitas décadas, uma relação com as seguradoras e com a banca através de canais externos – como balcões, gestores, plataformas paralelas e integrações forçadas – está a colapsar. A digitalização dos sistemas empresariais e o crescimento das APIs financeiras modificaram os serviços financeiros em módulos que se ativam a partir do próprio ambiente operativo.
As decisões deixaram de ser tomadas a posteriori e acontecem agora em tempo real, graças a modelos preditivos baseados em dados de negócio. As empresas deixam de depender de intermediários para aceder a serviços críticos. Os responsáveis financeiros não precisam de sair do seu ERP para antecipar pagamentos, gerir seguros ou ativar uma linha de crédito. As PME têm agora acesso a soluções que antes eram exclusivas de grandes corporações.
Este acontecimento é uma mudança cultural abrangente, muito para além da eficiência operacional ou automatização de tarefas. Os novos avanços tecnológicos não substituem os bancos, mas obrigam-nos a transformar-se numa infraestrutura adaptativa, flexível e quase invisível.
O que ganhamos e perdemos na nova era da invisibilidade financeira?
Historicamente, a forma como nos relacionávamos com as finanças era um processo repleto de burocracia, fricção e tempos de espera. Vivíamos rodeados de processos sólidos, mas com muito pouca agilidade.
Nos dias de hoje, quando estes processos se integram e ocorrem “sem pedir permissão”, ganhamos tempo, mas o ritual a que estávamos habituados perde-se completamente no silêncio digital. As informações financeiras deixaram de ser um mero relatório e transformaram-se num sinal permanente integrado no fluxo das decisões.
Com esta transformação, o desafio para as organizações é duplo. Por um lado, capitalizar todo o potencial desta transformação: redução de riscos, menos erros, mais controlo de liquidez, melhoria da experiência de clientes e fornecedores.
Por outro lado, encontram o desafio de preservar a dimensão humana num sistema que é cada vez mais digital.
Embora as transações se tenham automatizado, as decisões continuam a ser altamente estratégicas. À medida que os processos se tornam mais fluidos, aumenta também a necessidade de garantir transparência, rastreabilidade e ética financeira.
Para os líderes financeiros não se trata apenas de uma revolução técnica. Estamos numa nova era, em que se lidera a partir da integração e a partir do desenho de arquiteturas financeiras conectadas. Neste momento, é fundamental compreender que o trabalho já não começa quando o dos outros termina, porque este é contínuo e transversal a todas as operações.
Um novo sistema operativo para a economia
Os serviços financeiros incorporados estão a tornar-se o sistema operativo das empresas modernas. É uma reformulação de todo o ecossistema produtivo. E neste novo sistema, é possível manter-se à margem da integração, mas insustentável e ineficiente a longo prazo.
Neste cenário, os bancos e seguradoras que entenderem esta mudança não perderão relevância: ganharão ubiquidade. O seu valor deixará de residir na marca, para se concentrar na capacidade de se integrarem, de se adaptarem em todos os processos, de fazer a inteligência emergir do próprio tecido operacional.
As empresas que se destacarem nesta transição não serão necessariamente as mais digitalizadas, mas as que conseguirem integrar dados, serviços e decisões num fluxo único e contínuo.
Porque o futuro das finanças é uma rede que nos atravessa, flui através de nós e molda cada escolha.
