A transformação digital tem sido uma prioridade no sistema educativo português, mas a sua implementação tem sido desigual. Enquanto o ensino regular básico e secundário tem beneficiado de projetos-piloto de manuais digitais e distribuição de equipamentos, os cursos profissionais e de ensino e formação (CEF) têm ficado à margem dessa evolução tecnológica.
A Lógica por Trás da Desigualdade
A disparidade no acesso a recursos digitais entre os diferentes níveis de ensino resulta de critérios políticos de implementação e prioridades na alocação de recursos. Os projetos-piloto de manuais digitais, iniciados principalmente em escolas do ensino regular, dependem de manifestação de interesse dos diretores e adesão voluntária das escolas, o que acaba por deixar de fora muitos cursos profissionais e de formação.
Além disso, a política de distribuição de computadores tem sido direcionada principalmente para alunos abrangidos pela Ação Social Escolar, ou seja, alunos considerados socialmente vulneráveis, e para turmas que participaram diretamente nos projetos de desmaterialização dos manuais. O ensino profissional, embora essencial para o desenvolvimento das competências técnicas e para o mercado laboral, tem sido menos contemplado nos investimentos em digitalização de recursos educativos.
Consequências para os Alunos dos Cursos Profissionais
Esta falta de acesso equitativo a recursos digitais tem implicações diretas na formação dos alunos dos cursos profissionais. Muitos destes cursos necessitam de acesso a conteúdos técnicos atualizados e de ferramentas digitais para atividades práticas, mas sem os meios adequados, os estudantes ficam em desvantagem. A distinção entre os diferentes tipos de ensino gera um fosso digital, agravando desigualdades no acesso à tecnologia e à inteligência artificial entre jovens de grupos distintos.
A Necessidade de uma Abordagem Inclusiva
É imperativo que as políticas educativas adotem uma abordagem inclusiva, garantindo que todos os alunos, independentemente da via de ensino, tenham acesso igualitário aos recursos digitais. Movimentos de pais e entidades têm pedido uma revisão destas políticas, argumentando que todos os alunos merecem iguais condições de acesso ao conhecimento digital, seja por papel, computador ou Internet.
A transformação digital na educação deve ser uma oportunidade para todos os alunos, sem exceção. É fundamental que o sistema educativo português promova uma digitalização equitativa, assegurando que os cursos profissionais e de ensino e formação tenham acesso aos mesmos recursos e oportunidades que o ensino regular. Só assim será possível garantir uma formação de qualidade para todos os estudantes, preparando-os adequadamente para os desafios do mercado de trabalho digitalizado.
Fonte: Funchal Notícias